No início desta Primavera borrifada, gostava de partilhar convosco este poema de Amor. Amor grande, o que ama todas as coisas e que nos ata ao mundo.
"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."
Carlos Drummond de Andrade
the journey to the east
If only you could see what I've seen with your eyes
Monday, March 21, 2005
Amar
Posted by Daniel Quinn at 6:12 PM
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3 comments:
Já não amas em inglês? Nem no singular? - "partilhar convosco". O plural mostra-nos ou esconde-nos?
Apesar e com pesar de não me sentir amada no singular e em inglês, sinto que sou amada e amo no plural e em português. O plural mostra-nos. Tenho esperança.
Amar, amar, amar
a vida, o tempo, a cor e o gesto
Amar é ser
é existir
em nós, nos outros, para os outros
ser no mundo, como o mundo é em nós
É passar o tempo mas nunca a memória
é lembrar,
é vir ver o teu blog
a ver se mato as saudades
é dar-te muitos beijinhos pela net
é este novo mundo vertual
Amar é viver
e viver é amar
mar
ar
r
Pedro
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